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A mente que gruda

Tanto durante a meditação, quanto na vida diária, todo praticante de mindfulness logo se defronta com um elemento que o impede de prosseguir como deseja. Como é possível desenvolver uma atenção que realmente esteja no presente se constantemente a dita atenção prefere estar pensando seja nos acontecimentos do passado, seja nos planos, expectativas ou medos relacionados ao futuro? Três eventos mentais são essenciais de serem entendidos aqui se quisermos ter alguma esperança de desenvolver uma mente mais livre. Esses três eventos ocorrem em sequência, cada qual devendo ocorrer para que o próximo também ocorra. São eles: sentir, desejar ardentemente e se apegar.

Nosso apego ao passado e ao futuro é a cola que faz com que a mente constantemente vá para outros momentos no tempo, ainda que nossas intenções sejam de continuar no presente. Como cada um desses eventos depende de um elemento anterior, temos que o apego depende da existência do desejo ardente ou sedento. Em outras palavras, esses pensamentos que surgem nos levando ao passado e ao futuro são sobre coisas que são tomadas como muito importantes por nós, na realidade, frequentemente mais importantes do que talvez deveriam ser. O apego – essa sensação de que a mente está grudada em algo, aprisionada contra sua vontade consciente – depende da existência do desejo sedento. O apego usa o desejo sedento como base.

Ei, espera aí! Quer dizer que não posso desejar nem me apegar a nada?” Aqui é preciso notar uma distinção fundamental para entender este assunto. Primeiramente é preciso distinguir entre apego e uso. Você pode usar algo sem necessariamente ter um apego. Não precisamos grudar em tudo o que tocamos. Não precisamos ficar pensando horas sobre as pessoas com as quais nos encontramos, nem sobre os locais que fomos ou que iremos. Podemos tratar tudo isso apenas como eventos em nossa vida, alguns mais importantes que outros certamente, mas não precisamos nos prender com correntes a eles e jogar fora a chave do cadeado!

Falar de não-apego, não significa dizer que você deveria abandonar todas coisas. A ideia aqui é abandonar o apego – essa sensação de que a mente está grudada em algo, aprisionada contra sua vontade consciente -, e não abandonar todas coisas com as quais você tem relação. O problema não está nas coisas, mas sim no apego. O problema não está nas coisas, mas no tipo de relação que você estabelece com elas.

E como temos uma identificação muito grande com pessoas, situações, ideias, pensamentos e sentimentos, então é muito difícil percebermos a diferença entre todas essas coisas e o apego, mas existe uma diferença aí. E um modo de você saber se existe ou não apego em sua relação com algo é vendo o estresse e o sofrimento que isso causa. Mas isso ficará para a próxima publicação.

* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.

1 comentário em “A mente que gruda”

  1. Gostei bastante. Uma prática difícil. Gostaria qud explicasse o apego nas dores crônicas. Podemos ficar apegados as dores ? Que prática é maus eficaz focar na dor Acolhendo ou manter o foco amplo sem olhar para dor apenas Acolhendo tudo. Como vivo dores clínicas tenho interesse nesses detalhes. Obrigado Ricardo daqui de Florianópolis.

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