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Educar com Atenção Plena pode Manter os Filhos longe de Problemas

Segundo novas pesquisas, os filhos de uma criação consciente são menos propensos às drogas, à depressão e à ansiedade

por Jill Suttie

A Atenção Plena tem obtido respaldo como uma forma de melhorar o bem-estar pessoal, da saúde à felicidade e à resiliência. Segundo os críticos, porém, alguns praticantes da atenção plena focam demasiadamente no auto-desenvolvimento, a ponto de se tornarem auto-centrados.

Agora, duas novas pesquisas pintam um quadro diferente, sugerindo que a atenção plena também ajuda no aprimoramento do bem-estar de outras pessoas em nossas vidas – em particular, de nossos filhos – se realmente a praticarmos.

Em um estudo, pesquisadores da Universidade de Vermont investigaram mais de 600 pais de crianças entre 3 e 17 anos de idade para ver como a atenção plena se relacionava ao bem-estar de seus filhos. Os pais informaram sobre sua atenção plena enquanto um traço adquirido (quão atentos são em suas interações diárias), sobre sua atenção plena na criação dos filhos (quão atentos, não julgadores e não reativos eles são nas interações com os filhos), e sobre práticas positivas versus negativas de criação (por exemplo, expressar amor incondicional e colocar limites versus utilizar-se de punições físicas duras). Eles também refletiram sobre os estilos típicos dos filhos quanto ao seu modo de lidar com os desafios – se eles tendiam à ansiedade, à depressão, ou ao comportamento exacerbado, tal como bater ou gritar em situações difíceis.

As análises demonstraram que os pais que admitiram uma criação mais consciente (plenamente atenta) engajavam-se mais em comportamentos positivos e menos em comportamentos negativos, o que, por sua vez, se associava a mais comportamentos positivos dos filhos – ou seja, menos ansiedade, depressão ou demonstrações dramáticas.

“Trazer a consciência e a atenção plena às interações com os filhos parece realmente preparar uma pessoa para ser um bom pai ou uma boa mãe”, afirma Justin Parent, principal autor do estudo.

Curiosamente, os pais que simplesmente apresentavam um traço de atenção plena mais alto não notavam resultados significativos em seus filhos, sugerindo que ser plenamente atento e ser um pai (uma mãe) plenamente atento(a) podem ser duas coisas diferentes. Parent sugere que investir numa prática de atenção plena pode aumentar a atenção plena e diminuir o stress, mas que isso não significa, necessariamente, que a pessoa seja capaz de aplicar tais habilidades em contextos mais carregados.

“Quando alguém já desenvolveu padrões interiorizados de conduta com sua família, esses podem ser muito difíceis de mudar,” diz ele.

Enquanto o estudo de Parent sugere uma correlação entre, de um lado, uma criação positiva, plenamente atenta dos filhos e, de outro, efeitos positivos nas crianças, é difícil saber o porquê. Segundo ele, trata-se de notar os próprios sentimentos no momento de um conflito, aprender a fazer uma pausa antes de responder com raiva, e ouvir cuidadosamente o ponto-de-vista do(a) filho(a) mesmo quando se discorda dele(a). Essas habilidades têm o potencial de ajudar a preservar o relacionamento pai/mãe – filho(a), enquanto também proporcionam um modelo positivo de como lidar com situações difíceis.

Caitlin Turpyn e Tara Chaplin da George Mason University tentaram investigar esse relacionamento diretamente em outro estudo, trazendo pais e crianças ao laboratório para observar suas interações em tempo real.

Nesse caso, pais que haviam informado sobre seus níveis de atenção plena na criação dos filhos foram solicitados a se engajar numa conversa com suas crianças de 12 a 14 anos, sobre um assunto difícil e conflituoso em seu relacionamento. Essa conversa foi gravada e analisada de modo a revelar até que ponto os pais expressavam emoções positivas, negativas, e compartilhavam emoções positivas com seu filho. Mais tarde, esses resultados foram comparados com os relatos sobre o comportamento sexual e o uso de drogas pelo adolescente.

Em suas análises, os pesquisadores descobriram que os pais com mais alto grau de atenção plena na criação dos filhos demonstraram menos emoções negativas e mais emoções positivas compartilhadas com suas crianças nas conversas, do que os pais com menor grau de atenção plena na criação dos filhos. Por sua vez, a partilha de mais emoções positivas associava-se com menos uso de drogas pelos jovens (embora não se associasse com uma diminuição em seu comportamento sexual).

“A criação de filhos com atenção plena faz diferença, mesmo quando se cria um adolescente, e é relevante quanto a comportamentos de risco”, afirma Chaplin.

Curiosamente, expressões de emoção positiva ou negativa em si não pareceram fazer muita diferença no comportamento sexual do adolescente ou em seu uso de drogas, apesar de estudos anteriores terem associado a negatividade da criação pelos pais com a tomada de riscos pelo jovem. Chaplin especula que, talvez, seja mais importante que os pais estejam sintonizados emocionalmente com os filhos, do que serem positivos ou negativos em suas interações.

“A criação dos filhos com atenção plena talvez tenha mais a ver com sintonia ou congruência emocional na interação do que simplesmente com os pais sorrirem bastante”, diz ela. Sorrir durante conversas tensas pode nem ser construtivo.

Tomados em conjunto, esses estudos sugerem que encorajar uma criação de filhos mais atenta (consciente) e responsiva – e com menos gritaria e punições duras – pode ajudar os jovens, indiretamente, a evitar alguns dos riscos da adolescência, tais como a depressão, a ansiedade, a dramatização, ou o uso de drogas. Chaplin acha que a criação de filhos com atenção plena ajuda porque mantém os pais conectados com seus objetivos na educação dos filhos.

“Muitas vezes os pais querem fazer a coisa certa ao educar os filhos – eles querem ser calorosos, estabelecer uma estrutura, regras e consequências, e tudo isso é bom”, afirma Chaplin. “Às vezes, porém, eles são pegos no momento, quando o adolescente bate a porta em sua cara, com raiva. É aí que entra a educação com atenção plena (consciente).”

Tanto o estudo de Chaplin, quanto o de Parent são preliminares e não necessariamente provam que a criação dos filhos com atenção plena cause os efeitos medidos. Poderia haver outras explicações para as descobertas. Por exemplo, uma criação com atenção plena pode melhorar o relacionamento dos pais entre si, o que é sugerido por outro estudo de Parent. E isso, por sua vez, pode explicar as crianças lidarem positivamente com as dificuldades. Pode também acontecer que a relação seja inversa, isto é, que o comportamento problemático das crianças cause um impacto na habilidade dos pais de criar os filhos com mais atenção plena.

Ambos os pesquisadores reconhecem essas possibilidades e afirmam que mais estudos são necessários. Parent quer delinear mais o modo como a criação dos filhos com atenção plena afeta a regulação emocional das crianças. Chaplin está planejando um estudo controlado randômico, comparando um curso de oito semanas de criação de filhos com atenção plena com um curso de criação de filhos convencional e medindo como isso afeta as interações entre pais e filhos. Eles esperam que sua pesquisa demonstre, eventualmente, que a criação de filhos com atenção plena é um instrumento útil para ajudar os pais a ajudarem seus filhos.

“Não acho que sabemos o suficiente sobre isso ainda. Porém, se demonstrarmos que nosso programa aumenta a atenção plena dos pais e que isso faz diminuir o comportamento de risco de seus adolescentes, estaríamos mais seguros de que é a educação dos pais que está levando a isso [esses resultados],” afirma Chaplin. “Então, isso [criar os filhos com atenção plena] poderia ser algo que todos os pais aprendessem a fazer”.

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Este artigo foi publicado originalmente na revista online Greater Good, do Greater Good Science Center da UC, Berkeley, sendo aqui traduzido sob permissão por Rosana Lucas para o NUMI.

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