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“Para ser feliz só preciso mais isto…”

Em “A mente que gruda” vimos que as sensações de prazer e desprazer servem de base para o desejo sedento. Para que o desejo sedento surja a partir de tais sensações é necessário a intervenção de uma nova força, a ignorância. Lembre-se de que o desejo sedento é aquele desejo particular que causa sofrimento para nós. Prazer e desprazer acontecem naturalmente em cada contato sensorial. Se fôssemos capazes de simplesmente vivenciar prazer e desprazer e deixá-los passar, não surgiria o desejo sedento e tudo estaria bem. Não haveria sofrimento. Prazeres e desprazeres seriam eventos naturais que seria vivenciados por uma mente equilibrada. Mas não somos capazes de permanecer equânimes. Queremos mais do prazer que foi experimentado e queremos evitar de todas as maneiras futuros desprazeres. É o papel da ignorância fazer com que queiramos essas duas coisas, pois ela nos confunde quanto ao que é felicidade e o que é prazer. Para a ignorância, felicidade é ter mais prazer e menos desprazer. “Felicidade” passa a ser uma corrida incessante de busca e evitação.

Uma vez que tenhamos entendido que o desejo sedento provém de uma relação entre as sensações de prazer e desprazer com o fator da ignorância, podemos começar a nos questionar quanto a deixar que a ignorância reja nossas vidas. Felicidade não é idêntica a prazer contínuo e zero desprazer. Incessantemente correr atrás do prazer e evitar todo e qualquer desconforto é de fato um sofrimento. Ao buscar a felicidade com a presença da ignorância o que de fato estamos produzindo é infelicidade.

Um ponto significativo no caminho de desenvolvimento interior de um indivíduo é justamente quando ele percebe que não é por aí. É neste ponto de virada que realmente ocorre uma modificação de orientação. Você passa a não mais seguir a corrente das ações comuns, o curso de ganância e aversão que todos seguem em sua busca pela felicidade. Este caminho passa pela percepção aguda e bastante clara de que você estava seguindo uma propaganda enganosa. Sair à procura de prazer e desesperar-se com cada incômodo não é o que lhe traz satisfação.

Veja, ninguém está indo contra a satisfação. Ninguém está falando para você não ter prazer ou mesmo que isso não seja importante. O que se está falando é que a satisfação não se consegue do jeito que você acha que se consegue. Satisfação real não depende da aquisição. Então, você pode ter contato com o prazer e tentar evitar situações desconfortáveis, mas sem achar que é possível criar um mundo só com o primeiro e desprovido do segundo, ou achar que só quando tiver específicos prazeres e não tiver específicos desprazeres é que poderá ser feliz.

Seja qual for sua situação na vida, uma pergunta a se fazer constantemente é: “Como posso estar aqui neste momento e estar bem?” Isso consiste de ter a atitude contrária ao: “Para ser feliz só preciso mais isto…” Não entre no jogo do desejo sedento. Você sacrificará toda sua vida nisso. “Como posso ser feliz com isso que tenho?” Independentemente do que você tenha. Logo você aprenderá que é possível ter satisfação sem o hábito insano da conquista contínua, sem alimentar constantemente a sede que não cessa.

* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.

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