Como Mindfulness Funciona Quando Ela Não Funciona

 

Este é um extrato do livro, ainda não publicado, do professor Gil Fronsdal. Ele realça muito bem uma das práticas formais dos programas de mindfulness, a prática da observação vigilante em relação à respiração. Este extrato foi traduzido pela equipe de tradução do Centro Nalanda.

Ao praticar a vigilância (mindfulness), pode ser útil recordar que a prática funciona mesmo quando não parece funcionar. Talvez isso seja melhor explicado com uma analogia.

Considere um córrego de montanha onde a água é bastante clara, e parece plácida e quieta. Mas se você colocar um pedaço de madeira na água, um fluxo em torno da pequena madeira mostra que na verdade a água está fluindo. A madeira se torna um ponto de referência que nos ajuda a perceber o movimento da água.

Da mesma maneira, a prática da vigilância é um ponto de referência para perceber aspectos de nossas vidas que possam ter passado desapercebidos. Isso é especialmente verdadeiro para a vigilância por meio da respiração. Na tentativa de estar presente na respiração, você pode se tornar consciente das preocupações e da dinâmica da mente que puxa a atenção para longe da respiração. Se você puder permanecer com a respiração, então, obviamente, a vigilância na respiração estará funcionando. No entanto, se sua tentativa de permanecer com a respiração resulta em maior consciência sobre o que lhe puxa para longe da respiração, então, a prática também está funcionando.

Sem a referência da prática da vigilância, é bastante fácil continuar desatento às preocupações, tensões e impulsos que operam em sua vida. Por exemplo, se você está ocupado fazendo muitas coisas, a preocupação em fazer as coisas pode cegar você para a tensão se acumulando no corpo e mente. Só parando, em vigilância, você pode tomar consciência das tensões e sentimentos que estão presentes.

Às vezes, a sua tentativa de permanecer com a respiração é a única maneira de ver a velocidade com que a mente está correndo. Andando de trem, se você mantiver o olhar nas montanhas ao longe, você talvez não perceba a velocidade do trem. No entanto, se você colocar sua atenção mais perto, os postes de telefone aparecendo e desaparecendo rapidamente ao lado dos trilhos revelam a velocidade do trem. Mesmo quando você tiver dificuldade em permanecer atento à respiração, o seu esforço contínuo para voltar à respiração pode destacar o que de outra forma poderia passar despercebido, ou seja, o ritmo rápido da mente. Na verdade, quanto mais rápido o pensamento e maior a preocupação, maior a necessidade de algo tão perto quanto a respiração para ajudar a trazer a consciência para o que está acontecendo. Essa consciência, por sua vez, frequentemente traz algum alívio em relação à preocupação.

Quando permanecermos com a respiração durante a meditação for difícil, podemos facilmente ficar desanimados. No entanto, essa dificuldade é uma oportunidade para nos tornarmos mais conscientes das forças da mente e dos sentimentos causadores das distrações. Lembre-se, se aprendermos com o que está acontecendo, independentemente do que está acontecendo, a prática está funcionando, mesmo quando parece não estar funcionando, quando não conseguimos permanecer com a respiração.

Mesmo quando é relativamente fácil permanecer com a respiração, a vigilância com relação à respiração pode ainda funcionar como um importante ponto de referência. Nesse caso, pode não ser um ponto de referência para as fortes forças de distração, mas sim para pensamentos e sentimentos mais sutis que podem estar perto da raiz de nossas preocupações e motivações. Não persiga esses pensamentos ou sentimentos. Simplesmente esteja consciente de que estão presentes, enquanto continua a desenvolver a meditação sobre a respiração, para que a respiração possa se tornar um ponto de referência ainda mais refinado. Quando estamos estabilizados na respiração, o coração torna-se claro, tranquilo e calmo como um lago na montanha. Então podemos ver até o seu fundo.

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