Um estudo recente investiga como vivenciamos os sentimentos ao longo da vida
por James McConchie
Se você convive com adolescentes, provavelmente já testemunhou a montanha russa emocional que marca a adolescência. Você pode ter dificuldades de acompanhar seus picos, com as emoções variando de uma elação extrema ao desespero total de um minuto para o outro. Mas por que a vida emocional adolescente é tão conturbada e como isso difere da experiência emocional em outras idades?
Em um estudo recente, pesquisadores de Harvard e da Universidade de Washington procuraram mapear o desenvolvimento da diferenciação emocional, que é a habilidade de reconhecer e rotular, com precisão, diversas emoções em si. Esse é um sinal de boa saúde mental, pois aqueles com alto grau de diferenciação emocional tendem a utilizar estratégias eficazes para lidar com situações difíceis ao invés de recorrerem a alternativas como o álcool ou a agressão.
O estudo solicitava aos participantes entre 5 e 25 anos que assistissem a uma série de imagens desagradáveis, tais como um bebê chorando, e avaliassem o quanto eles sentiam cinco emoções negativas: raiva, nojo, tristeza, medo e perturbação. Seus registros foram analisados para se determinar a frequência com que eles vivenciavam uma emoção independentemente das outras quatro.
Ao final, os pesquisadores descobriram que os adolescentes tendiam a vivenciar muitas emoções simultaneamente, mas sua diferenciação era fraca. Em outras palavras, um adolescente pode sentir, consistentemente, raiva e tristeza juntas, indicando que lhe é difícil distinguir entre as duas.
“É possível que quanto mais se vivenciam emoções conjuntamente, mais difícil se torna aos adolescentes diferenciarem e regularem suas emoções, o que potencializa o risco de uma doença mental”, explica o autor líder Erik Nook. A adolescência é “um período de maior confusão sobre quais emoções se sente, exatamente”.
Consigo me enquadrar aí ao recordar meu primeiro encontro dançante na escola, cheio de excitação quanto à perspectiva de dançar com minha paquera e uma enorme ansiedade de exibir meus passos de dança em frente a todos os meus amigos. O resultado foi um colapso emocional, que ajudou a explicar por que aqueles passos de dança saíram tão estranhos.
Os pesquisadores descobriram que as crianças demonstravam mais diferenciação emocional que os adolescentes – mas não necessariamente por que sua consciência emocional fosse mais evoluída. Ao contrário, elas tendiam a experimentar uma emoção a cada vez. Quando meu filho de quatro anos está com raiva, ele sabe disso e o resto do mundo também!
Os adultos, por outro lado, demonstraram maior diferenciação emocional que os adolescentes – mas não por que eles só estavam vivenciando uma emoção por vez. Os adultos também vivenciavam muitas emoções simultaneamente, mas eles pareciam ter-se aprimorado na capacidade de distinguir umas das outras. Assim, quando meu filho de quatro anos fica com raiva e eu começo a sentir, tanto tristeza, quanto frustração, consigo reconhecer que me sinto triste porque meu filho está perturbado, mas frustrado porque eu só quero que ele calce seus sapatos!
Se a habilidade de diferenciar emoções é tão importante, será que os adolescentes podem desenvolvê-la? Ou será que eles precisarão simplesmente seguir o velho adágio que diz que “você vai entender quando for mais velho”?
Uma estratégia um tanto quanto promissora, que ajuda aos jovens administrarsuas emoções é ensinar a autorregulação diretamente. Com as evidências se acumulandode que o autocontrole promove imensos benefícios, os pesquisadores descobriram que aprender a lidar com o desequilíbrio emocional e aumentar a empatia pode ajudar os adolescentes a ficarem mais aptos em suas habilidades de autorregulação.
Outro estudo recente, apesar de ter sido conduzido com adultos, sugere que a diferenciação emocional pode ser estimulada por meio da prática de mindfulness(consciência plena). O processo de trazer a atenção ao estado mental interior sem julgamento parece ajudar as pessoas a distinguirem as emoções que vivenciam, rotulando-as. Esses resultados promissores indicam que a prática de mindfulness(consciência plena) pode ser uma avenida que vale a pena percorrer, adolescentes ou qualquer um de nós que luta com a montanha russa das emoções.
Este artigo foi publicado originalmente na revista online Greater Good, do Greater Good Science Center da UC, Berkeley, sendo aqui traduzido sob permissão por Rosana Lucas para o NUMI.