A respiração é um dos objetos mais difundidos de meditação. Ela é simples de ser observada. Não exige nenhum aparato externo. Está sempre disponível. A respiração foi usada por muitas culturas como uma maneira de se acalmar, de focar a mente, de gerar energia no corpo. Há muitas utilidades em se treinar com a respiração.
Abaixo mostro um dos modos como os buddhistas praticam com a respiração. As instruções abaixo são adaptadas de Narada Thera, no livro “Buddhism in a Nutshell”.
“A concentração no processo da respiração leva ao focamento da mente e finalmente ao insight que habilita alguém a atingir o estado de pureza. O Buddha também praticou a concentração na respiração antes de sua iluminação. Essa concentração inofensiva pode também ser praticada por qualquer pessoa irrespectivamente de qualquer crença religiosa.
Adotando uma postura conveniente, mantenha o corpo ereto. Coloque a mão direita sobre a mão esquerda. Os olhos ficam fechados ou semi-fechados. Os orientais geralmente se sentam de pernas cruzadas com o corpo ereto. Eles se sentam colocando o pé direito sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita. Essa é a posição completa. Algumas vezes adotam a meia posição, que é de simplesmente colocar o pé direito sobre a coxa esquerda ou o pé esquerdo sobre a coxa direita.
Quando a posição triangular é assumida, o corpo todo fica bem equilibrado. Aqueles que acham a postura de pernas cruzadas muito difícil podem se sentar confortavelmente em uma cadeira ou qualquer suporte suficientemente alto a ponto de descansar as pernas no chão. Não tem importância qual postura se adote uma vez que seja uma posição fácil e relaxada.
A cabeça não deve pender para a frente. O pescoço deve ser endireitado de maneira que o nariz possa estar em uma linha perpendicular com o umbigo… Antes da prática o ar ruim dos pulmões deve ser exalado vagarosamente pela boca e, então, a boca deve permanecer fechada.
Agora inspire pelas narinas normalmente, sem força, sem tensão. Mentalmente conte um. Expire e conte dois. Inspire e conte três. Conte até dez constantemente se concentrando no processo respiratório sem pensar em outras coisas. Enquanto assim o faz, a mente pode vagar. Mas não fique desanimado. Gradualmente será possível aumentar o número de séries – digamos cinco séries de dez.
Mais tarde, será possível inspirar e fazer uma pausa por um momento, concentrando-se meramente na inspiração sem contar. Expire e faça uma pausa por um momento. Então, inspire e expire se concentrando na respiração. Alguns preferem a contagem como uma ajuda na concentração, enquanto que outras pessoas preferem não contar. O que é essencial é a concentração, enquanto que a contagem é secundária.
Quando se pratica tal concentração podemos no sentir muito pacíficos, leves na mente e no corpo. Depois de praticar por um período pode vir um dia em que se perceba que este ‘corpo’ é sustentado pela mera respiração e que o corpo perece quando a respiração cessa. Percebemos completamente a impermanência…
Fica claro que o objeto desta concentração na respiração não é meramente conquistar um focamento direcionado, mas também cultivar um insight a fim de obter a libertação em relação ao sofrimento. Em alguns lugares este método simples e inofensivo de respirar é descrito assim:
‘De modo vigilante, ele inspira; de modo vigilante, ele expira.
1. Quando inspirando de modo longo, ele sabe: “Inspiro de modo longo”; quando expirando de modo longo, ele sabe: “expiro de modo longo”.
2. Quando inspirando de modo curto, ele sabe: “Inspiro de modo curto”; quando expirando de modo curto, ele sabe: “expiro de modo curto”.
3. “Percebendo claramente todo o processo respiratório, inspirarei”; assim ele treina a si mesmo. Percebendo claramente todo o processo respiratório, expirarei”; assim ele treina a si mesmo.
4. “Acalmando a respiração, inspirarei”; assim ele treina a si mesmo. Acalmando a respiração, expirarei”; assim ele treina a si mesmo.’”
* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.