Julgamentos apressados

Vivemos em um mundo rápido. Decisões e movimentos rápidos com o intuito de nos mover para um progresso rápido. O problema é que com essa rapidez também passamos a viver em um mundo de julgamentos rápidos. Uma fechada no trânsito, alguém com uma cara mais séria, um gesto estranho ou uma frase ouvida sem o devido contexto, e a mente é tomada por uma enxurrada de julgamentos negativos, reações emocionais fortes e condenações. Nosso melhor eu cessa e entra em cena alguém pouco interessado em ponderar e contextualizar. Com o hábito, cada evento lá fora que não ocorra exatamente como esperamos torna-se um gatilho para nossas condenações.

Tudo isso acima não é outra coisa que a manifestação de um velho conhecido: a aversão. E aversão muito comumente vem de uma insegurança interna em saber lidar com uma situação mais difícil ou inesperada. A aversão e os julgamentos que dela decorrem são uma resposta rápida que tenta, ilusoriamente, recuperar um equilíbrio. É como se pelo julgamento rápido “resolvêssemos” a situação. Terminamos a exploração da situação e o deixar que certa quantidade de imponderável exista para que certezas e absolutos se instalem.

O modo mais sábio de lidar com os julgamentos apressados é explorar dentro de nós esses pontos vulneráveis, com consciência e compaixão. Se você percebe que frequentemente cai nesse padrão, tente parar por uns momentos para avaliar algum julgamento que teve durante o dia. Pode ser que você ache útil fazer uma breve anotação logo depois que eles ocorrerem e então, no final do dia, avaliá-los um a um. Eis uma sugestão de prática:

  1. Traga à memória a situação que deu ocasião para um julgamento apressado. Reveja o que aconteceu e sua reação imediata, os pensamentos de condenação e as emoções negativas.
  2. O que você esperava ou supunha que era o “certo” de acontecer? Geralmente muitas das nossas reações surgem porque a realidade nos traz coisas que achávamos que não deveriam ocorrer. Então, quais eram nossas expectativas naquela situação?
  3. Rememore suas sensações na ocasião. Pode ser que apenas de pensar novamente na situação essas sensações ressurjam no corpo. Esteja bastante aberto para vivenciar novamente essas sensações e emoções, mas agora dentro de um espaço de plena consciência e compaixão, ao invés de pressa e negatividade. Sensações e emoções de julgamento apressado vêm da agitação interna. Compreenda essa vulnerabilidade e determine-se que numa próxima vez tentará estar mais centrado e sem pressa em julgar.
  4. Conecte-se com um espaço calmo e centrado dentro de si. Isso pode ser obtido pelo centramento que você tem adquirido pela prática da meditação. A respiração, o fluir das sensações corporais ou dos eventos nos campos da visão e audição podem ser excelentes bases para sair fora do ciclo negativo de julgamentos apressados e se instalar numa posição mais estável.

Ao vivermos desconectados de nossos sentidos, entramos num mundo de movimento rápido, reatividade, impaciência, aversão. Saímos da realidade presente e entramos em círculos mentais compostos de histórias, fantasias e expectativas. É dessa posição que passamos a reagir e julgar apressadamente tudo à nossa volta.

* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.

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