Vivemos em um mundo rápido. Decisões e movimentos rápidos com o intuito de nos mover para um progresso rápido. O problema é que com essa rapidez também passamos a viver em um mundo de julgamentos rápidos. Uma fechada no trânsito, alguém com uma cara mais séria, um gesto estranho ou uma frase ouvida sem o devido contexto, e a mente é tomada por uma enxurrada de julgamentos negativos, reações emocionais fortes e condenações. Nosso melhor eu cessa e entra em cena alguém pouco interessado em ponderar e contextualizar. Com o hábito, cada evento lá fora que não ocorra exatamente como esperamos torna-se um gatilho para nossas condenações.
Tudo isso acima não é outra coisa que a manifestação de um velho conhecido: a aversão. E aversão muito comumente vem de uma insegurança interna em saber lidar com uma situação mais difícil ou inesperada. A aversão e os julgamentos que dela decorrem são uma resposta rápida que tenta, ilusoriamente, recuperar um equilíbrio. É como se pelo julgamento rápido “resolvêssemos” a situação. Terminamos a exploração da situação e o deixar que certa quantidade de imponderável exista para que certezas e absolutos se instalem.
O modo mais sábio de lidar com os julgamentos apressados é explorar dentro de nós esses pontos vulneráveis, com consciência e compaixão. Se você percebe que frequentemente cai nesse padrão, tente parar por uns momentos para avaliar algum julgamento que teve durante o dia. Pode ser que você ache útil fazer uma breve anotação logo depois que eles ocorrerem e então, no final do dia, avaliá-los um a um. Eis uma sugestão de prática:
- Traga à memória a situação que deu ocasião para um julgamento apressado. Reveja o que aconteceu e sua reação imediata, os pensamentos de condenação e as emoções negativas.
- O que você esperava ou supunha que era o “certo” de acontecer? Geralmente muitas das nossas reações surgem porque a realidade nos traz coisas que achávamos que não deveriam ocorrer. Então, quais eram nossas expectativas naquela situação?
- Rememore suas sensações na ocasião. Pode ser que apenas de pensar novamente na situação essas sensações ressurjam no corpo. Esteja bastante aberto para vivenciar novamente essas sensações e emoções, mas agora dentro de um espaço de plena consciência e compaixão, ao invés de pressa e negatividade. Sensações e emoções de julgamento apressado vêm da agitação interna. Compreenda essa vulnerabilidade e determine-se que numa próxima vez tentará estar mais centrado e sem pressa em julgar.
- Conecte-se com um espaço calmo e centrado dentro de si. Isso pode ser obtido pelo centramento que você tem adquirido pela prática da meditação. A respiração, o fluir das sensações corporais ou dos eventos nos campos da visão e audição podem ser excelentes bases para sair fora do ciclo negativo de julgamentos apressados e se instalar numa posição mais estável.
Ao vivermos desconectados de nossos sentidos, entramos num mundo de movimento rápido, reatividade, impaciência, aversão. Saímos da realidade presente e entramos em círculos mentais compostos de histórias, fantasias e expectativas. É dessa posição que passamos a reagir e julgar apressadamente tudo à nossa volta.
* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.