Mantendo o equilíbrio na meditação

Acalmar a mente quer dizer encontrar o equilíbrio. Se você tentar forçar a mente demasiado ela vai muito longe; se não tentar o suficiente ela não chegará, ela falhará em alcançar o ponto de equilíbrio”. – Ajahn Chah

Este grande mestre tailandês faz notar um ponto muito importante, ou seja, que para treinar a mente  é preciso cuidar do equilíbrio. Da mesma maneira que se treina o corpo para torná-lo mais forte ou resistente, a mente também precisa ser treinada. Treinada em atenção focada, em compaixão, em clareza, em mindfulness. A dedicação regular nos exercícios é muito importante e só assim veremos resultados. Mas se forçarmos demais o treinamento a mente ficará estressada, cansada, exausta. Então devemos aprender a notar quando estamos exigindo demais. Fazemos os exercícios com equilíbrio e tranquilidade, mas também com determinação.

Quando praticando com a respiração, por exemplo, que nossa atenção possa repousar no entrar e sair do ar, estabelecer a observação vigilante à nossa frente, e notar a respiração com firmeza e clareza. Não é preciso força nem alteração da respiração. Ao assim fazer naturalmente a mente se tranquilizará, e a respiração ficará mais e mais refinada.

Quando isso ocorre, aí então é um momento para se ter cuidado. A mente tranquila num corpo tranquilo pode facilmente levar ao excesso de relaxamento, e com isso a perda do foco atencional. Aqui temos o caso curioso de muita atenção levar à diminuição da energia. Energia é um dos fatores essenciais em uma boa prática meditativa. Não podemos perdê-la.

Como manter o nível adequado de energia é fundamental, temos de estar sempre alertas a essas variações. Se a energia enfraquecer, as distrações serão mais tentadoras e a mente cairá na sonolência ou nos devaneios. Os diversos obstáculos meditativos conseguirão facilmente entrar e prevalecer.

O fator que mantém a determinação e o relaxamento equilibrados é justamente mindfulness. Como diz Ajahn Chah: “Aquilo que vigia os vários fatores que podem surgir na meditação é mindfulness. Essa qualidade mindfulness é uma condição que, através da prática, pode ajudar os outros fatores a surgirem. Mindfulness é vida. Sempre que não temos mindfulness, quando estamos desatentos, é como se estivéssemos mortos. Se não tivermos mindfulness, então o nosso discurso e nossas ações são sem significado. Mindfulness é simplesmente contemplação. É uma causa para o surgimento da conscientização de si e da sabedoria. Quaisquer virtudes cultivadas serão imperfeitas se mindfulness estiver em falta. Mindfulness é aquilo que permite nos observarmos enquanto estamos de pé, andando, sentados ou deitados”.

* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.

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