É impressionante o número de pessoas que passam por frustrações na meditação. São pessoas bem intencionadas, sinceras, que tentam meditar ocasionalmente, mas não conseguem ver muitos resultados ou, para sermos bem sinceros, nenhum resultado. Um padrão bastante comum é que elas meditam a partir de ideias simples e pré-concebidas do que seja meditação e como praticá-la. Frequentemente acreditam em ideias do tipo que meditar é não pensar, esvaziar completamente a mente para ‘experienciar’ o vazio, chegar a algum estado alterado de consciência, ou então realizar complexos rituais. Não é de se surpreender quando não conseguem resultados e ficam tão frustradas.
O primeiro ponto fundamental em uma prática de meditação é saber o que fazer. Meditação é uma técnica, a aplicação de um método e, portanto, depende de conhecimento, e não de ideias vagas carregadas de palavras como ‘vazio’, ‘relaxamento’, ‘sair do corpo’, ‘transe’, ‘união com o todo’, consciência cósmica’, etc. Saiba o que está fazendo, entenda em seus princípios básicos os vários tipos de meditação e para que servem cada um deles. Certifique-se de saber o para quê e o como ao escolher um tipo específico.
Então, tente formar um hábito de prática. A prática deve ser regular. É melhor praticar menos tempo todos os dias do que ser um meditante de fim de semana ou mesmo de 1x ao mês. E quando a estiver praticando, dê à prática 100% de sua atenção e energia. Esse não é o tempo para divagar e colocar em dia sua lista de tarefas. Cuide de seu objeto de meditação. Interesse-se por ele. Cultive-o. Bem cuidado ele pode ser um amigo que lhe levará muito longe.
Uma prática completa de meditação geralmente envolve dois momentos. A prática formal, onde você pratica a técnica aprendida durante um período que tem começo, meio e fim. Você pratica com afinco, com conhecimento, e está consciente de seu progresso ao longo das semanas e meses, pois você sabe o que está treinando. Não há nada de vago na meditação. Ao mesmo tempo há exercícios relacionados à meditação formal que podem e devem ser realizados ao longo do dia. Isso se chama prática informal e trata de trazer as qualidades da meditação, tais como concentração, energia, determinação, equanimidade ou desapego para as atividades da vida diária. Ambas as práticas são importantes e complementares.
Meditação não é uma suspensão dos pensamentos, pensar em nada ou no vazio, mesmo que muitos lugares promovam tais ideias. O objetivo fundamental é trabalhar nossa habilidade em ver mais claramente, o mundo e a nós mesmos, cultivando entendimento, compaixão e clareza sensorial. Não é uma fuga da realidade, mas para a realidade. E essa realidade, inicialmente, inclui também quem você é no momento presente, suas raízes, crenças, relacionamentos, preferências e aversões. Por isso que meditação não é feita apenas sobre a almofada, mas em qualquer ocasião em que você esteja diante de algo à sua frente. Na meditação formal você constrói e afia suas ferramentas. Na informal você leva as ferramentas e começa a trabalhar no jardim de sua vida.
* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.
Excelente texto!Impressionante como eu não conhecia nada de meditação.