Se você se senta para meditar e se mexe todo o tempo: uma coceira aqui, um desconforto ali, um reajuste depois, o que ocorrerá é que no final você passará mais tempo prestando atenção aos seus movimentos do que na própria respiração. Quando se sentar, sente-se o mais imóvel possível, feche os olhos e que o foco seja o prestar atenção na respiração, se esse for o objeto escolhido para a sessão atual.
É somente isso que você precisa fazer agora. Após os primeiros momentos de ajuste da posição, descanse a mente na respiração. Que ela flua naturalmente. Que não haja força aplicada. Ao decidir não se mover, você poderá compreender mais claramente o que motiva seus movimentos. Vem a vontade de se mover. Você se pergunta: “São estímulos físicos, como sensações corporais?” “Ou são ‘urgências’ mentais internas?” Você aprenderá a lidar com a inquietude e a impaciência, pois se sua determinação em não se mexer foi estabelecida então não restará outra coisa senão aprender a como se acalmar e resistir à vontade de se mexer. Um mestre de meditação cambojano dizia: “O corpo é um veículo como um carro, um avião ou uma bicicleta. Usamos o corpo, mas não precisamos permitir que ele nos use. Se pudermos controlar a mente, então, mesmo quando enfrentando o sofrimento físico poderemos permanecer livres e claros” (Mahā Ghosananda).
Evitar seguir automaticamente os impulsos do corpo durante a meditação nos permite conhecer melhor tanto corpo quanto mente. Possivelmente você até ficará mais tenso diante da perspectiva de não se mexer, e precisará aprender o equilíbrio entre estar relaxado porém manter uma firmeza de propósito. Geralmente vemos essas duas atitudes como contraditórias. Relaxar é não manter nenhuma intenção na mente. Ter firmeza de propósito é ter tensão e dor de cabeça depois de um tempo. Não precisa ser assim. Tente achar o equilíbrio.
Claro, se você acabar se mexendo, não precisa se chicotear nas costas pensando que é o pior meditante do mundo. Aplique-se novamente ao propósito e recomece a meditar. Você não está fazendo uma prova que no final será avaliado. Pelo contrário, você está aprendendo sobre o funcionamento do corpo e da mente no sentido mais interno.
Essa determinação em não se mexer também auxiliará no fortalecimento de sua intenção. É muito comum que movimentos ocorram sem você perceber. Isso acontece quando você não estava realmente presente, mas perdido em algum pensamento. Muito tempo de nossa vida é gasto num tipo de realidade virtual. Estamos perdidos em nossos pensamentos, e nem percebemos os movimentos que fazemos. Então a determinação em não se mover nos ajudará a estarmos mais conscientes de nós mesmos e das motivações internas que surgem antes de nos movermos. Como fizemos uma determinação no início da meditação, fortalecemos a intenção mantendo-a durante o período.
Tente fazer isso agora. Coloque um alarme com o tempo determinado que escolher. E não se mexa antes disso. E se você pratica com outras pessoas, tente também permanecer imóvel. Além dos benefícios para si mesmo, você também será um exemplo para as outras pessoas. Elas, como você, por vezes abrem rapidamente os olhos para ver se os outros estão meditando mesmo! Seria melhor não fazê-lo, não dar margem para a fantasia de que “todos estão imersos na meditação, menos eu”, mas se ocorrer, tudo bem. Se todos se esforçarem para serem imóveis, todos se beneficiarão e estimularão uns aos outros.
* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.