Na agitação da vida moderna as pessoas se envolvem com tantas atividades que no final do dia duas coisas podem acontecer. Ou elas estão superagitadas ou estão esgotadas. Pode até ocorrer as duas coisas! Ficamos agitados porque ao longo do dia estivemos com muitas atividades diferentes. Cada momento exigindo nossas respostas. Cada momento nos pedindo para dizer “sim” ou “não”. Cada momento tentando nos convencer que é merecedor de nossa atenção.
Não apenas os eventos comuns pedem atenção. Também nossa prática e nossos estudos. São tantos livros, exercícios, aulas, projetos. Ao tentar fazer tudo acabamos nada fazendo e caindo na procrastinação e na preguiça, ou tentamos fazer tudo de maneira mais ou menos. Talvez uma história do Oriente possa reverberar naqueles que se encontram nessa situação e ao mesmo tempo tentam ver o mundo a partir de mindfulness e de uma perspectiva mais contemplativa.
Conta-se que havia certa vez um monge que estudava assiduamente todos os dias, mas não conseguia aprender todas as escrituras e preceitos. Ele se tornou muito ansioso. Não conseguia comer ou dormir, e foi ficando cada vez mais fraco e magro.
Finalmente, ele se aproximou do Buddha. “Senhor, por favor, tome meu manto. Existem muitos ensinamentos e eu não posso ter a maestria de todos eles. Eu não estou capacitado para ser um monge”.
O Buddha respondeu: “Não se preocupe. Para ser livre, você deve ter a maestria de apenas uma coisa”.
“Por favor, ensine-a a mim”, implorou o monge. “Se o senhor me der apenas uma prática, eu a exercitarei de todo o coração e estou certo de que serei bem sucedido”.
Assim, o Buddha disse a ele: “Adquira a maestria da mente. Quando você assim o fizer, conhecerá todas as coisas”.
“Quando temos a maestria da mente, diz o monge Mahā Ghosananda, somos livres de todos os sofrimentos. Não há necessidade de nenhum outro ensinamento”.
Mindfulness é uma das ferramentas mais valiosas para entender a mente. Ei, só precisamos de uma coisa. Não a menospreze. Pratique-a. Tente entendê-la cada vez mais profundamente. Só há uma coisa para se fazer; e todas as outras seguirão disso.
PS: História retirada do livro “Passo a Passo: Meditações sobre a Sabedoria e a Compaixão” de Mahā Ghosananda. Edições Nalanda, 2013.
* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.
Gratidão, querido Ricardo.