Um estudo recente publicado na edição de março/abril do periódico Annals of Family Medicine, liderado pelo Dr. Samuel Y. S. Wong da Universidade de Hong Kong, separou em dois um grupo de 231 adultos acima de 18 anos com diagnóstico de depressão subclínica. Cerca de 27% dos pacientes com depressão subclínica, segundo o Dr. Wong, progridem para depressão maior dentro de doze meses, daí sua rápida detecção ser importante no tratamento preventivo da depressão.
O primeiro grupo foi submetido a uma intervenção semanal de uma sessão de duas horas, por oito semanas, de uma terapia chamada de ‘Ativação comportamental com mindfulness’. Segundo a reportagem do Medscape: “A ativação comportamental é uma terapia breve, simples e estruturada para depressão que visa aumentar as experiências gratificantes ao encorajar os pacientes a estabelecerem metas e a participarem de interações sociais e atividades prazeirosas. A meditação do tipo mindfulness enfatiza a aceitação e a consciência sobre emoções, pensamentos e sensações corporais do momento presente. Estudos prévios demonstraram que a ativação comportamental é eficaz entre pacientes com depressão de leve a moderada, e que intervenções baseadas em mindfulness são eficientes na prevenção de recidiva em pessoas com depressão recorrente. Este novo estudo combinou as duas abordagens”.
Ainda nas palavras da reportagem da Medscape (no caso de quem não tem acesso a ela): “As primeiras quatro (sessões) incluíam psicoeducação relacionada ao bem-estar, estabelecimento de metas de curto e longo prazo, automonitoramento de atividades e do humor, programação de atividades diárias, e identificação de negação e do impacto dela, de forma a levar os pacientes à maior conscientização da própria tomada de decisões. As sessões seguintes, da quinta à sétima, incluíam meia hora de revisão da ativação comportamental e uma hora e meia de prática de mindfulness – treinamento na técnica básica de mindfulness, incluindo escaneamento corporal (observação das sensações corporais de cada parte do corpo) e meditação sentada e andando. Os pacientes receberam um CD com gravações de meditações guiadas para usar em casa. Eles foram instruídos a praticar em casa por pelo menos 10 minutos ao dia, no mínimo seis dias por semana após a quinta sessão. As sessões em casa foram sendo aumentadas para 20 minutos ao dia após a sexta sessão, e para 45 minutos ao dia após a sétima sessão”.
O segundo grupo apenas recebeu o tratamento médico usual, sem qualquer intervenção psicológica adicional. Os pesquisadores procuravam por dois marcos principais. O primário era os sintomas depressivos medidos segundo o Beck Depression Inventory-II (BDI-II) após doze meses. O secundário incluia a incidência de uma desordem depressiva maior, abrangendo marcações de qualidade de vida, mudança de atividade e circunstâncias, ansiedade.
Os resultados no final do experimento indicaram que o primeiro grupo apresentava mudanças mais favoráveis nos níveis dos sintomas depressivos em termos do Beck Depression Inventory-II , com melhorias na qualidade de vida e diminuição da ansiedade. Em termos de incidência de transtorno depressivo maior no grupo da ACM houve uma redução pela metade em comparação com o segundo grupo que não recebeu o tratamento com mindfulness.
No geral, esses resultados se somam à convicção de que tratamentos que aliam práticas de mindfulness colaboram de maneira significativa para uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
Para quem quiser ver a pesquisa original detalhada, inclusive as tabelas com o conteúdo das sessões, pode acessá-la aqui: Treating Subthreshold Depression in Primary Care: A Randomized Controlled Trial of Behavioral Activation With Mindfulness
Ou para quem tem acesso ao Medscape pode ver a reportagem aqui: Meditação pode reduzir depressão na atenção básica
* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.