Um novo programa ajuda alunos e professores a notarem as coisas boas da vida.
por Emily Campbell
Se fosse para você ensinar consciência plena (mindfulness) e gratidão a estudantes, a fotografia poderia não ser o primeiro método que lhe viesse à cabeça. Mas, em sua essência, mindfulness é um estado de consciência aberta e de atenção. E para sentir gratidão, primeiro temos que notar, de verdade, as coisas boas da vida.
Sob esse prisma, é mais fácil ver como a fotografia poderia ser utilizada nas salas-de-aula como um instrumento capaz de promover consciência plena e gratidão – e os benefícios que ambas têm demonstrado trazer aos jovens. Como afirmou o jornalista de fotografia francês, Marc Riboud, “Fotografar é saborear a vida intensamente, cada centésimo de segundo”.
O CHM (Center for Healthy Minds) da Universidade de Wisconsin-Madison há muito vem estudando o ensino da vigilância em salas-de-aula do Ensino Fundamental I. Nos últimos anos – com um patrocínio de The John Templeton Foundation em parceria com o Greater Good Science Center – eles desenvolveram e testaram um currículo de fotografia vigilante (mindful) com cinco semanas de duração. O manual do projeto explica:
Pode-se dizer que a fotografia é uma manifestação física da consciência plena. Envolve parar/pausar, observar, enquadrar, focar e capturar/ receber… Basicamente, a fotografia é um relacionamento com o momento presente. Relacionar-se com o momento presente com alegria e gratidão é uma escolha que se pode fazer. Desacelerando, podemos acessar a alegria ao mudar o foco da consciência para aquilo que nos eleva.
O CHM ofereceu o currículo de fotografia vigilante a professores do quinto ano que já estavam envolvidos no estudo de um currículo baseado em mindfulness, que incluía tanto um treinamento de dez semanas no outono para que eles estabelecessem sua própria prática de consciência plena, quanto um currículo de oito semanas de mindfulness para os alunos, na primavera. Todos os seis professores a quem se deu a chance de participar do treinamento de fotografia vigilante aceitaram, e cinco deles puderam continuar com o projeto durante um segundo ano, com novos grupos de alunos.
A primeira semana era dedicada a que os alunos usassem a ideia de pausar para notar o que estava a seu redor no momento presente (um conceito da consciência plena). Era solicitado que eles apreciassem os elementos visuais do que eles notavam, tais como cores, linhas, formas, texturas, luz e sombra. Na segunda semana, os alunos aprenderam a usar seus próprios olhos como câmera. Eles notavam o que lhes chamava a atenção e praticavam a consciência sem julgamentos, percebendo que pessoas diversas podem ver a mesma coisa de modos diferentes.
Então, na terceira semana, cada aluno(a) recebeu uma câmera descartável e foi instruído(a) para fotografar coisas pelas quais se sentisse grato(a) e que lhe trouxessem alegria. Na quinta e última semana, os alunos refletiram sobre a experiência e compartilharam suas imagens. Cada um(a) recebeu um pequeno álbum para decorar e preencher com suas fotos, assim criando um álbum físico da gratidão que ele(ela) poderia guardar e voltar a olhar como um lembrete de sua consciência e apreciação.
Com base no retorno dos participantes, professores e alunos parecem ter gostado do currículo, julgando-o engajador e pleno de sentido; especialmente a conexão com a consciência plena (mindfulness), bem como com emoções positivas. “Esse projeto re-enfatizou a importância de se desacelerar e estar presente ao momento”, disse um professor. Outros notaram os efeitos benéficos de enxergar a beleza ao nosso redor e cultivar a gratidão.
Os estudantes expressaram sentimentos parecidos. “Mindfulness é conhecer suas emoções e permanecer calmo, e a fotografia pode realmente mantê-lo calmo e focado”, disse um deles. Outro afirmou que a fotografia vigilante “ajuda a nos mantermos calmos e felizes e a notar pelo que somos gratos”. Ou ainda, nas palavras de outro, “Acabamos tirando fotos de pessoas e coisas que eram importantes para nós”. (Quando o CHM observou o conteúdo das fotos dos alunos do quinto ano, as duas categorias de temas que mais apareceram foram colegas de turma e natureza). A resposta de um aluno foi simples, mas profunda: “[A experiência] mostrou-me que o mundo é colorido”.
Muitas vezes, passamos correndo por nossas vidas ocupadas sem realmente notar ou apreciar toda a beleza que nos rodeia. Como descobriu o CHM, a fotografia vigilante é uma forma criativa de cultivar foco, visão profunda, e gratidão, o que tanto alunos, quanto professores, podem carregar consigo para o resto da vida.
Nas palavras de Dorothea Lange, cujas fotos icônicas deram um rosto humano à Grande Depressão: “A câmera é um instrumento que ensina as pessoas a enxergarem sem uma câmera”.
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Este artigo foi publicado originalmente na revista online Greater Good, do Greater Good Science Center da UC, Berkeley, sendo aqui traduzido sob permissão por Rosana Lucas para o NUMI.