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Vivemos a vida prestando atenção pela metade

Diante do campo da mente vemos pensamentos negativos, agitação, arrogância, inveja, derrotismo, medo e muitas outras coisas mais. É importante ver que é preciso fazer uma limpeza. Uma das maneiras de fazer isso é traquilizar a mente. Geralmente nossas mentes estão tão agitadas, puxadas para cá e para lá pelos objetos do sentidos, pelas demandas e preocupações, que toda essa agitação impede que tenhamos uma visão clara da mente. No Oriente isso é chamado de samatha. Literalmente significa tranquilização ou centralização da mente. Isso é algo importante em qualquer processo de conhecimento.

Quando você se relaciona com o mundo, você precisa focar sua mente naquilo diante de si. Você já teve uma conversa com uma pessoa onde você está explicando uma série de coisas e ela está olhando para outro canto? Você já teve a impressão de que a pessoa não estava ouvindo o que você estava falando? Aí, de vez em quando, ela vira e fala: “Entendo, entendo”. Muito frequentemente não temos foco. Não prestamos, de fato, atenção no que estamos fazendo. E sem prestar atenção você, de fato, não entende bem a situação. É, por exemplo, o que ocorre entre pais e filhos muitas vezes. Para você entender o seu filho você tem que olhar para ele. Você tem que ouvi-lo. Você tem que entender de onde aquela fala está vindo. Não adianta você pensar: “Eu já passei por isso, eu já fui criança, jovem, etc., já sei tudo e não importa o que o outro venha falar porque são situações que já vivi”. Se já tivermos uma pré-ideia de como são as coisas, não seremos capazes de nos relacionar integralmente com o presente. Estaremos sempre carregando muito do passado em nossas relações.

Vivemos a vida prestando atenção pela metade. Fazemos isso com filhos, com pais, com amigos. Temos uma série de ideias a respeito do outro, do mundo e de nós mesmos. Isso faz com que achemos que não precisemos dar nossa total e cuidadosa atenção. Essas ideias passam, então, a ser o intermediário entre nós e o outro. Essa é a razão porque devemos ter um certa desconfiança com as crenças. Crenças são ideias que nós temos a respeito de como o mundo funciona, de como a mente funciona. Temos crenças que nos iludem. Pensamos que sabemos mais do que realmente sabemos. Muitas vezes nós não sabemos, nós não estamos a par dessas premissas que temos. Só que elas se impõem entre eu e o outro, o que nos impede de olhar verdadeiramente para o outro e, portanto, nos impede de ter conhecimento. Conhecimento direto.

Nesse sentido, crença é quase que o oposto do conhecimento. Na verdade, ela é um inimigo do conhecimento. Quanto mais você acredita, quanto mais doutrinas, ideias, opiniões a respeito das coisas você tem, menos há ali um conhecimento direto. Menos você é capaz de ter um conhecimento direto. Então estabilização mental (samatha) tem a ver com você colocar foco nas coisas e, assim, tranquilizar a mente. Você desenvolver uma mente que é mais pura, mais aberta. Ela é uma mente de iniciante, que não tem pré-conceitos. Ela é capaz de simplesmente ver algo e observar o que é esse algo, sem tentar rotular, sem tentar categorizar. Isso é uma coisa muito difícil.

* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.

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