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Diga sim à frustração

Você pode ter começado a meditar em busca de uma diminuição no stress, para lidar com um tema específico como ansiedade, luto ou compulsão, como uma forma de auto-terapia ou mesmo em busca de um ideal espiritual, a libertação ou a união com algo maior. Você, então, aprende alguma técnica de meditação. Você se senta imóvel diante de uma parede, repete algum mantra, observa o movimento de seu abdômen ou mesmo faz visualizações. Seja o que for que tenha escolhido fazer, é bastante provável que você fracasse nesse começo. O corpo doe, a mente se distrai muito além do que você poderia supor, você nunca encontra tempo para meditar. E você fica frustrado. Fica desanimado. Fica a ponto de desistir.

Nas meditações baseadas em mindfulness, independentemente do objetivo e das técnicas utilizadas, estamos interessados em estarmos presentes ao que está acontecendo. Não é apenas estar presente de um modo superficial. É realmente estar presente! E isso significa estar presente também para nossa frustração, nosso desânimo, nossas dores, distrações e obstáculos. Tudo isso faz igualmente parte da meditação. Quando ocorrem devemos ser capazes de reconhecer esses acontecimentos, estarmos presentes a eles. Se falhamos em reconhecer sua presença pensaremos que são apenas obstáculos que devem ser imediatamente expulsos, e fracassando nisso, ficaremos frustrados.

Não seremos capazes de sair de nossa frequente bagunça emocional se quisermos constantemente eliminar o que impede nossos objetivos e é diferente daquilo que esperamos que aconteça. A meditação ajudará ao permitir que você possa observar aquilo que ocorre na mente com clareza e equanimidade, mesmo aquilo que não está de acordo com suas expectativas. Ela envolve muito sentar e observar o que ocorre na mente, como ela funciona, como pensamentos e emoções influenciam em nossos estados mentais e mesmo físicos.

Manter em mente nossos objetivos é importante. Se você não tem claro para onde está indo, você não saberá se está se aproximando ou se distanciando de onde quer ir. Ter uma técnica clara também é muito importante. Meditar não é apenas sentar e não fazer nada. Em geral há instruções precisas sobre como uma prática deve ser conduzida. Mas todas essas coisas começam com o reconhecimento de que nossa prática pessoal não seguirá literalmente as etapas descritas nos livros, na ordem e no tempo em que desejamos. É preciso dizer sim à frustração, ao descontentamento, às distrações. Saber que estão lá. Saber que aparecem. Saber que é normal aparecerem. Saber que está tudo bem se isso ocorrer.

* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.

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