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Reger o Universo

Apresento hoje uma história indiana retirada de um livro que traduzi e publiquei muitos anos atrás. Ela conta de uma reunião feita por vários deuses para ver quem seria capaz de reger o universo. Espero que seja uma boa reflexão para todos nós praticantes de mindfulness. Quem deixaremos nos dirigir? Ela me lembra também uma história dos índios norte-americanos sobre os dois lobos. É dito que o velho ancião indígena disse ao jovem aprendiz: “Dentro de você vivem dois lobos. Um é bondoso, generoso e sábio. O outro é feroz, violento e malicioso. Eles lutam constantemente entre si”. E quando o aprendiz pergunta: “Qual dos dois é o vencedor?”, o ancião responde: “Aquele que você alimentar”. Boa leitura deste conto indiano agora!

No princípio, os deuses e deusas fizeram uma eleição para determinar quem melhor seria capaz de reger o universo. O primeiro candidato foi Agnidevaputra, o Deus do Fogo. “Eu sou o mais forte”, ele disse, “sendo assim, eu deveria reger. Testemunhem o meu poder”. E na medida em que começou a cantar com voz retumbante, um imenso fogo se elevou do centro do universo e começou a queimar por todos os lugares. Os outros deuses e deusas tremeram de medo e todos levantaram suas mãos a fim de eleger Agnidevaputra. Todos, isto é, exceto Valahakedeputra, o Deus da Água.

Valahakedeputra disse: “Eu posso controlar o Fogo”. E imediatamente criou um imenso dilúvio para extinguir o fogo. Na medida em que as ondas cresciam cada vez maiores, todas as divindades levantaram suas mãos para nele votar, exceto Saradadevi, a Deusa da Arte e da Sabedoria.

Saradadevi disse: “Caros amigos, fogo e água podem aterrorizar e matar pessoas, mas eu dou nascimento à beleza. Quando eu começar a dançar, vocês relaxarão e se esquecerão completamente do fogo e da água”. Saradadevi, então, começou a dançar e a cantar, e todos os deuses e deusas entraram em êxtase. Ao invés de beberem água por suas bocas, eles começaram a beber vinho por seus ouvidos, olhos e narizes. Fascinados pelo poder de Saradadevi, todas as divindades levantaram suas mãos, exceto Gandharva, o Deus da Música Celestial.

Gandharva disse: “A mulher pode superar o homem, mas o homem também pode superar a mulher”. E começou a tocar seu instrumento celestial e a cantar, e todas as divindades moviam-se na medida em que a música fluía pelo salão. Como que extasiadas, todas elas levantaram suas mãos, exceto Santidevaputra, o Deus da Paz, Vigilância e Clara Compreensão.

Santidevaputra disse: “Eu sou o Deus da Paz. Eu sempre pratico a vigilância (mindfulness) e a clara compreensão. Votando em mim ou não, eu sou o meu próprio regente. Para reger o universo, vocês devem primeiro reger a si mesmos. Para reger a si mesmos, vocês devem ser capazes de reger suas próprias mentes. Para reger suas mentes, vocês devem praticar a vigilância e a clara compreensão”.

Todos os deuses e deusas reconheceram a força de Santidevaputra e o elegeram unanimemente. Eles compreenderam que a paz é a força mais poderosa do universo.

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Trecho extraído do livro “Passo a Passo: Meditações sobre a sabedoria e a compaixão” de Maha Ghosananda. Edições Nalanda, 1993

* Ricardo Sasaki é psicólogo clínico e um dos professores do NUMI.

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